quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pinto da Costa "Compete-me preparar os próximos 30 anos"

No dia em que celebrou 30 anos da vitória nas eleições para a presidência do FC Porto, Pinto da Costa focalizou o seu discurso no futuro. Foi durante um jantar de apoio à sua recandidatura que apontou para o que se segue, ao mesmo tempo que expressou o desejo de continuar a ver o clube a somar conquistas, independentemente de quem lhe possa suceder num futuro ainda sem data. "Não me compete fazer a história dos últimos 30 anos, mas antes preparar o FC Porto para os próximos 30. Pretendo entregar o clube a quem possa proporcionar mais 30 anos de vitórias e de orgulho para todos os portistas", afirmou Pinto da Costa.
Depois de ter recordado todos aqueles que com ele fizeram e fazem este percurso, e de ter deixado palavras especiais para José Maria Pedroto - "foi com ele que arquitetei o FC Porto de hoje" -, Pinto da Costa voltou a apontar baterias para o futuro. "Estou é virado para o que se segue. O meu desejo passa por ajudar. Mantenho aquilo que disse na primeira reunião que tive no FC Porto: estarei aqui enquanto entender que sou útil. Vou continuar a tomar as decisões que sirvam os interesses do clube e sem receios de ninguém. É assim que quero estar no FC Porto no período que ainda me falta para chegar ao fim do meu mandato. O importante é ter a consciência de que não desiludimos as pessoas que confiam em nós."
Sem nunca assinalar uma data para uma possível retirada, o discurso de Pinto da Costa manteve-se em linha com o futuro, numa espécie de preparação para o dia em que poderá deixar de comandar os destinos do FC Porto. "Como em tudo na vida, estamos a correr uma prova de estafetas. E não corremos sozinhos. Recebi este testemunho da mão de Américo Gomes de Sá e hei de passá-lo ao meu sucessor com a melhor pedalada que conseguir. Quando isso acontecer, com o apoio de todos, queremos contribuir para que o próximo presidente, seja ele quem for, possa manter a união e a chama do dragão bem acesa."
Mais tarde, Pinto da Costa recusou a ideia de que o discurso possa ter parecido uma despedida. "Foi um agradecimento pelo apoio que este grupo me tem dado. Não estou com vontade, nem sem vontade de continuar, porque não é o momento de estar a pensar nisso. Tenho mandato por mais um ano e, por isso, seria prematuro estar aqui a falar sobre uma recandidatura. Se tivesse que decidir hoje, teria de ter pensado ontem... Há uma coisa que as pessoas já sabem: não há ninguém eterno e o FC Porto é muito maior do que a longevidade de qualquer pessoa. Depois de mim, o FC Porto ainda vai ter muitos presidentes." A concluir, Pinto da Costa recusou-se a comentar a polémica no Sporting, que envolve Paulo Pereira Cristóvão. "Tenho muito respeito pelo Sporting e admiração pelo presidente Godinho Lopes e não tenho que fazer qualquer comentário."

"Leonardo Jardim? Enganaram-se na porta"

Sem se querer alongar sobre a atualidade, Pinto da Costa foi prudente na abordagem ao título. "Estamos num momento de grande expectativa para mais uma vitória no campeonato", registou, referindo-se depois a notícias que, no seu entendimento, visam desestabilizar. Comentou, por exemplo, a informação de que Leonardo Jardim poderia suceder a Vítor Pereira. "Não foi por acaso que isso surgiu na semana em que o Braga ia jogar à Luz", registou, enigmático: "Enganaram-se na porta, não éramos nós." Questionado sobre o assunto, desviou. "Pergunte ao Jardim, não falei em clube nenhum, só lhe disse que foi uma estratégia que não surtiu efeito e não nos perturbou. O Jardim, embora jovem, é experiente e sabe como são estas coisas. Há um ano vaticinei numa entrevista a O JOGO quem eram os melhores treinadores e referi dois, o Jardim e o Vítor", lembrou, voltando a desmentir que o atual treinador esteja de saída: "A imbecilidade não paga imposto e enquanto não lançarem impos~

No dirigismo há meio século


Por muito que a sua marca enquanto presidente supere qualquer efeméride, a verdade é que 2012 não simboliza apenas as três décadas na liderança do FC Porto. Pinto da Costa é dirigente do clube há meio século, tendo começado a construir a sua história em 1962 e ao serviço da secção de hóquei em patins.
Foi esse percurso inicial na sombra que recordou em entrevista ao Porto Canal, numa conversa cheia de histórias que aqui transcrevemos.
Da conversão do dragão do símbolo numa marca e numa identidade, passando pelos anos mais conturbados em que teve de saltar entre secções, Pinto da Costa correu um passado mais distante, mas que marca a sua história no clube.

A entrada no FC Porto


"O senhor Vieira era chefe da secção de hóquei em patins e habituou-se a ver-me em todos os jogos. Um dia convidou-me para o ajudar e fazer parte da secção. Convenceu-me dizendo que estava sempre ali e acabei por aceitar. Foi como seccionista e, mais tarde, chefe da secção e das modalidades que entrei para o FC Porto. Foi há 50 anos. Eram esses seccionistas a base e os verdadeiros pilares do clube.

A primeira vez que festejou um campeonato


"Vi o FC Porto ser campeão em 1956, com Yustrich, num último jogo com a Académica que tivemos que ganhar por 3-0, com um penálti do saudoso Hernâni, a 20 minutos do fim. Depois em 1958, em Torres Vedras, fomos ver um jogo. Íamos dez no mesmo carro, num Chrysler grande. A viagem não correu bem, porque o carro despistou-se e ficou impossibilitado de andar. Cada um acabou por ir à boleia. Encontrámo-nos no final do jogo, mas foi uma jornada fantástica, a mesma do célebre caso Calabote, em que estivemos 10 ou 12 minutos à espera que acabasse o jogo da Luz. Nunca mais acabava, com penáltis e frangos, foi um jogo que a história do futebol nunca mais esqueceu. Embora haja sempre a preocupação de não o lembrar.

Um bombeiro voluntário para as secções


"No tempo em que andava de secção em secção o doutor Miguel Pereira chamava-me bombeiro voluntário, porque quando tinha uma secção a arder chamava-me para lá. Um dia chamou-me. Precisava de mim por três meses para uma secção. Respondi que já tinha o hóquei em patins, o hóquei em campo e que colaborava com o atletismo. Mas queria que eu aceitasse sem saber para o que era. Era para três meses se não o presidente acabava com a secção. Disse que sim, depois de muita insistência. Era o boxe e fiquei um pouco assustado. Depois, com muita graça, disse-me que a gente ligada ao boxe era gente que levava muitos socos na cabeça e eu mais assustado fiquei.

Como nasceu a mística do clube


"Vencemos dois campeonatos seguidos [1977/78 e 1978/79] e recordo-me quando estávamos já perto do final da época de um jogador me ter dito que acontecia sempre alguma coisa e não ganhávamos. Dei-lhe um berro e disse que se estava com aquela mentalidade não jogava mais, qual fatalismo, qual Diabo, vamos é ganhar e ganhámos. Foi contra o Braga, recordo-me que na véspera tivemos uma conversa longa com os jogadores para os mentalizar e não tenho a mínima dúvida que quando entraram em campo só iam com a ideia de ganhar e ganharam 4-0 e foram campeões. A partir daí começaram a acreditar que podiam ganhar.

O dragão desperta


"No dia, num plenário da Direção saiu-me esta frase, sem ter nada pensado. 'Não brinquem com o FC Porto, porque o FC Porto tem no seu emblema um dragão que está no escudo da cidade e um dia esse dragão pode despertar.' A coisa passou. Quando cheguei à reunião de Direção disseram-me que não podia falar do dragão porque dava uma ideia de guerra. Respondi que o dragão estava no nosso emblema e que era um animal mítico, não um monstro, se não não estaria no escudo da cidade. Mas sujeitei-me à maioria. Mais tarde disse que não valia a pena continuar e acabou tudo ali.

Empurrado para a presidência


"Perguntei no restaurante se o senhor Manuel Couto tinha uma mesa reservada para seis e responderam-me que sim, mas para dois. A coisa não me soou muito bem, mas entretanto chegou o Neca. Fomos conversando e disse-lhe que tínhamos de fazer uma declaração e que ele tinha de assumir a presidência. Tinha de começar a liderar o processo. Mas ele respondeu-me: 'Então Jorge, você ainda não percebeu que o que o clube precisa é da sua cabeça e da minha carteira?' É evidente que o presidente tem de ser você.

in "ojogo.pt"

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